quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Gritos em Copacabana

A Rádio Cobalística leva até vocês. Mais um programa da séria série: "Dedique um textão ao que te perturba". Eu tenho aqui em meu word uma carta... Uma carta de uma leitora que nos escreve e assina com o singelo pseudônimo:"Mariposa apaixonada de Copacabana". Ela nos conta que no dia que seria o dia do dia mais Hi-Fi de sua vida...

" É noite de segunda-feira. A digestão daquele macarrão à carbonara se faz cada vez mais demorada e difícil. Também, depois disso foram três hi fis! Não, meus amigos. O que aconteceu depois não foi fruto de pesadelos por congestão. Aconteceu mesmo. Quem mora em Copacabana sabe. Porque não adianta só conhecer o bairro. Para entendê-lo, só morando aqui.

É madrugada. Mais precisamente 3h48. Saltei da cama em um único pulo, assustada nem sei com quê. Fui até a sala e o Victor, meu marido, tava lá dormindo e roncando placidamente. Morta de sede e ressaca, fui até a geladeira beber água, mas ao ver a garrafa de Fanta laranja light (a mesma do hi fi!!), mudei de idéia.

Voltei pra cama, mas não conseguia dormir apesar do álcool e do cansaço. Passava das 4h30 quando consegui cochilar. Então começam os gritos aterrorizantes: “Eu não agüento mais! Eu não agüento mais esse país! Eu não agüento mais!”. Bom, eu poderia escrever essa mesma frase umas 40 vezes que seria pouco. Não, eu não consegui contar quantas vezes exatas a voz histérica bradava isso. Completamente confusa, cheia de sono e atormentada, fui à janela. Por instantes, imaginei ser a despedida de uma suicida, então me fixei nas janelas e varandas dos apartamentos de frente. Vocês me acham muito mórbida por isso?

Claro que em seguida vieram os “Ssssshhhhhhhhhhhh” de toda a vizinhança e um sonoro “Vai dormir!!!”. Mas nada nem ninguém demoviam aquela mulher da esquina de Belfort Roxo com Ministro Viveiros de Castro. Sim, a essa altura eu já havia identificado a cabeleira loura-blond-total-plus-kátia-flávia. Ela seguia: “Eu não agüento maaaaais! Eu não agüento maaaaaaaaais esse país! Eu não agüento maaaaaaais!” e completava: “Eu odeio o Lula. Eu votei nele. Eu quero matar. Eu quero ser presa. Eu não agüento maaaaaaaaaais!!!!!!”.

Para desespero dos taxistas e dos notívagos que bebiam tranqüilamente seu cafezinho, finalmente a mulher resolveu entrar na padaria que fica em frente ao “palco” onde ela bradava seus apelos. Pausa: A padaria Atlântida fica aberta 24 horas, tem uns bolos ótimos e é uma das coisa que mais gosto daqui. Fim da pausa. Mas ao invés de pedir uma média e pão com manteiga, ela seguiu gritando dentro da padaria!!! A essa altura já estávamos eu, Victor e a torcida do América de pé, junto às janelas, só de “butuca”. Agora me diga sinceramente: isso já aconteceu na sua rua, no seu bairro?

Amigos, pra finalizar, essa brincadeira durou mais uma hora, pelo menos. Descobrimos algumas coisas sobre nossa protagonista: mora em Copa, é professora pública e votou no Lula, mas está arrependida. Bom, nisso ela tem companhia... Porém (ah, porém), minha veia jornalística falou mais alto no dia em que encontrei a menina que trabalha no caixa de noite. Certamente ela teria mais informações sobre a louraça. Essa não era a primeira vez que ela aprontava. Vez por outra ela é vista completamente bêbada, de mãos dadas com uma criança. Pobre criança, pobre Kátia Flávia.

O que me fez escrever esse texto foi o que esse fato traz em si: a insegurança em que vivemos (já abordado aqui com brilhantismo pelo nobre amigo Alan), mas também a solidão que assola muitas pessoas principalmente nas grandes cidades, o desrespeito, o desespero. O que essa mulher queria, mais do que poder andar em ruas seguras, é, sem dúvida, carinho e atenção. Que pessoa ao ser assaltada não iria correndo pra casa, em busca do apoio e do carinho da família, da segurança e aconchego do lar? A reação de ficar no meio da rua gritando foi mais do que um pedido de socorro pelo roubo ocorrido ou um protesto social. Foi uma súplica, foi um pedido desesperado e torto de atenção."

E agora, comenta pra mim... Eu não agüento ver Ludmila tão triste assim.

Texto: Ludmila Constant. (Mais uma "Fachista" neste blog...)
Introdução em tom de locução: Alan DB, o Rabugento.

4 comentários:

Anônimo disse...

Uhu! É nóis, mano!

Grazy Vedder disse...

Realmenteeeeee...eu ficaria ansiosa o pq de tanta revolta da mulher...apesar de, inicialmente, parecer bastante óbvia.

Mas essa é a tendência do mundo moderno! Estamos, sem perceber,
nos isolando cada vez mais e limitando nossos relacionamentos aos orkuts e msn da vida. E quando nos deparamos, nos momentos mais difícies, que não temos ninguém...bate o desespero. E aí, busca atenção dos estranhos mesmo.

Puxa, história melancólica, mas adorei Lud. SEJA BEM-VINDA!!!!!

Bjs

PS: Depois, falam da Zona Norte e Oeste né Bel?! Pelo menos nas nossas áreas não têm uma mulher enlouquecida revoltada com o Lula e uma mendiga querendo discutir a relação bem debaixo da minha janela ... e tudo de madrugada ...hahahahahaha!

Maisumcaféplease disse...

Primeiro devo dizer que apesar da história melancólica, como bem disse Grazy, amei o post. Fiquei imaginando cada cena, surreal.
Infelizmente a coisa tá tomando um rumo estranho, triste, mas é nessas horas que, para os sortudos, o melhor é pensar em todos aqueles que nos amam. Um conforto a mais para os que não estão só...
Bem-vinda!

Anônimo disse...

Meninas, muito obrigada pelo carinho, de verdade.
Eu é que agradeço a oportunidade.
Beijocas,
Lud