segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Reflexão relâmpago: Milagres

Final de semana de ações. De passos largos, algumas fraquezas pessoais e sinais.

"O Próximo Passo", grupo de teatro amador do qual faço parte há seis meses, finalmente conseguiu andar... Foi um trajeto pequeno, mas uma grandiosa caminhada. A proposta inicial é levar cultura e alegria pra crianças que precisam, sem querer nada em troca. Muitos não são atores, e nem têm essa pretensão... O que importa é dar o melhor e tentar se divertir no processo. E esse final de semana mostrou que estamos conseguindo...

Estivemos em dois lugares diferentes, mas que deram respostas muito parecidas. Pessoalmente, tive alguns entraves, uma certa depressão pós-visita no domingo, mas valeu. Até porque, sem perceber, o grupo ajuda a vencer nossas limitações.

Trazendo a reflexão pra proposta do blog, a gente expõe opiniões, defende nossas teorias, mas a prática quando chega é um tapa na cara. A realidade dói mais. Estar com crianças abandonadas, crianças doentes, em lugares com dificuldade de se manter, faz a gente se sentir impotente e ridículo. Impotente por não saber o que fazer pra ajudar e ridículo por estar sempre se fechando pra realidade. Abertos na teoria, mas fechados na prática, pois muitas vezes somos defensores dos fracos, mas evitamos contato, justamente porque ficaremos deprimidos, porque ficaremos sem reação. Por medo de nos sentirmos mal... E na verdade deveríamos nos sentir mal porque não fazemos.

Aos quinze anos, fui à minha primeira visita a um orfanato. A depressão que senti me fez ficar mais de dez anos sem voltar a um. Foi a obrigação de uma função que me fez voltar, e aprendi ali que devia começar em doses homeopáticas... Sempre persistindo. Sinto dificuldade até hoje. Não é fácil... Não sou exempo de desprendimento, não sou exemplo de força. Boa parte das pessoas é muito mais... Mas tento mudar um pouco meu individualismo ridículo e minha impotência emocional.

Hoje continuo me sentindo mal por aquelas crianças... No entanto, me sinto pior se deixá-las de lado. Sem demagogia...

No Sábado, entre uma visita e outra, tivemos uma tarde e uma noite. Um intervalo. E "coincidentemente" foi nesse intervalo que vi parte de um filme que nunca consegui ver por inteiro: "O Todo Poderoso". O Deus de Morgan Freeman trouxe frases meio batidas, mas que sempre fazem sentido. E a que mais me tocou num fim-de-semana de pura doação foi: Não espere por um milagre. Seja o milagre!

Não precisa dizer mais nada...

2 comentários:

Grazy Vedder disse...

Pois é querido amigo, te entendo, mas não concordo que vc deva se sentir mal.

Tudo bem, é fácil falar, até mesmo pq, no meu dia-a-dia no Centro, onde vejo crianças pequenininhas que deviam estar estudando, pedindo diheiro para mães que ficam na sombra conversando, me sinto um lixo...e sinto uma profunda tristeza por elas. Mas por outro lado, fico com raiva por me "fazerem sentir assim", não estou falando dos necessitados, mas sim do governo, para o qual pagamos 4 meses de salários para impostos justamente para investir em escolas, saúde e melhorias para gerar mais empregos para os mais pobres,e nada fazem.

Ou seja, pagamos uma fortuna para o governo para que essas melhorias sejam providenciadas, e mesmo assim nos sentimos culpados pela péssima qualidade de vida que eles levam.

A gente faz o que pode, doamos cestas básicas, roupas, "adotamos" crianças para ajudarmos ao longo do ano....mas, infelizmente, não podemos abraçar o mundo.

Não se sinta mal....o que o seu grupo faz é algo maravilhoso...vcs dão atenção e carinho para umas crianças que vão, provavelmente, crescer sem isso. Vcs tem o coração e a coragem, acima de tudo, para levar um pouquinho de vida p/ elas.

Meus parabéns....bjs orgulhosos da sua amiga!

Anônimo disse...

Po, vou ser sempre anônima enquando não tiver um e-mail do Google, mas eu vou resistir....
Amigo, concordo totalmente com você, PRECISAMOS SEMPRE NOS SENTIR MAL. É claro que a sua amiga Grazy tem razão por ficar chateada com a inutilidade (sempre) do governo, eu tb fico, mas isso não difere em nada. Sentir-se mal significa nunca se acomodar aos sentimentos do mundo, à enxurrada que o mundo quer nos levar, ao descado. Ao passar por um mendigo todo maltratado ou mesmo somente caído, eu sempre os olho...esse é minha forma de sentimento, é olhá-los pra pensar neles ou poder rezar pelo menos naquele minuto por eles. As pessoas passam por essas pessoas de forma indiferente, isso me dói muito, me dói estar no carona do carro de qq amigo que parado ao sinal, é interpelado por uma criança que pede que compre uma bala e ele nem olha...cara, isso me mata de raiva que sempre peço com raiva para algum amigo olhar para a criança e pelo menos dizer que não quer, digo "não deixe que a criança sinta que ela não existe da lado de fora do vidro, porra! Olha pra ela não menos e negue a compra". Amigo, eu me sinto como você e isso tb me deixa muito impotente, tanto que naquele domingo, cheguei a brigar com minha mãe, porque nunca fazemos o que deveríamos. Estamos no mundo pra sermos felizes, mas por que diabos os outros tb não podem ser felizes com algum amor que podemos doar pra eles (porque sabemos que as vezes não é só dinheiro que basta, não só bens materiais). No domingo vimos isso...o quanto precisa de ajuda aquele lugar, ajuda material, mas tb, o quanto as crianças precisam de carinho, elas são muito carentes. Temos que nos sentir mal a ponto de sempre, sempre, sempre, fazermos algo. Minha mãe é meu anjo...ela parou uma vez o transito da Conde de Bonfim, porque ninguém fazia nada com um mendigo que só sangrava!!! Será possível que as pessoas passavem por ali e nem ligavam pra aquilo??? Ela teve que chamar o bombeiro e mentir!!! Veja, ela teve que MENTIR, porque se falasse que era um mendigo sangrando, os bombeiros não iriam, ou demorariam pra chegar, ela inventou outra coisa mais urgente, mais urgente pra nós idiotas do mundo, olharem com mais seriedade. A coisa tá feia, mas precisamos ser os milagres que pudermos ser a cada lugar que estivemos, Jesus nunca tirou férias ou tinha um dia de spa. Que Deus me ajude tb a enxergar sempre isso e nunca, nunca TER DESCASO que o mundo quer me passar. Bjs com muito carinho, Diana