sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Nossas armas

O capitão do Exército Vander Cerqueira de Souza, 36 anos, foi assassinado na noite de terça-feira, numa tentativa de roubo de carro, em Deodoro, na zona oeste. Foi atingido por um tiro de fuzil na frente do filho de 1 ano e da esposa, Cláudia Valéria de Souza, 34 anos, que também foi atingida no joelho esquerdo. Cláudia, grávida de sete meses, sobreviveu, e ela e o bebê passam bem.

Por que trago esta notícia aqui? Porque acho que este blog pode ir além das notícias culturais e desabafos bem-humorados. E, para tal, trago o fato buscando reflexão...

Esta notícia não chegou a mim pelo jornal. O capitão Vander era grande amigo da Maíra, irmã caçula da Clarissa, amiga minha da Facha. Aliás, foi através da revolta da Maíra que fiquei sabendo do fato.

Maíra está de luto no Orkut. Enviou recados para todos os amigos, pedindo conscientização e paz. Está usando suas armas. Clarissa, como jornalista, resolveu apurar mais os fatos. Esclareceu que não houve reação por parte do Capitão, ao contrário do que muitos divulgaram. A reação veio por parte de outro motorista, que passava no momento do assalto, e o pai que tentava proteger sua família, acabou ficando na linha de tiro. Clarissa, que acredita que todos querem paz, mas que velas e passeatas não resolverão muito, também está usando suas armas.

E nós? Nós usamos nossas armas?
Em minha reflexão pessoal, comparei o fato à trágica morte de Rodrigo Netto, guitarrista do Detonautas. Aquele assassinato, muito parecido com esse, também chegou a mim por outras pessoas. Netinho estudou no Colégio Princesa Isabel, onde eu estudei, e fez Encontro de Adolescentes na Divina Providência... Por isso, muitos amigos e conhecidos meus eram amigos dele... E eu estava perto de algumas dessas pessoas quando a notícia chegou. Eu vi o desespero e a tristeza deles. E me senti muito impotente...

Nessas horas vemos o quanto estamos perto da violência. Não foi um amigo próximo que morreu, mas poderia ter sido. Outros casos já chegaram bem perto e fico questionando o quanto terei que esperar, na maioria das vezes passivamente, para que essa violência atinja alguém mais próximo... Será que terei que sofrer com uma perda para tomar uma atitude?

Meu questionamento não é apenas sobre violência. É sobre o comodismo frente a ela... Comodismo ao qual nos entregamos por, talvez, não termos uma solução a nosso alcance. Por não saber o que fazer... Uns tentam com passeatas e manifestações, que na maioria das vezes não levam a nada, mas demonstram e extravasam a indignação. Outros falam do assunto... Sabem que a solução só poderá vir por atos políticos e sociais reais. Atos que não surgirão apenas das cobranças e conscientizações, mas de atitudes pessoais.

Acredito sinceramente que podemos mais... Mas também me desestimulo quando sinto que estou falando pras paredes. Porque, por mais que ouçamos os gritos de revolta e mostremos que estamos conscientes, se nos acomodamos nos tornamos paredes... Imóveis, surdos e insensíveis.

Este é mais um dos enormes textos que já escrevi sobre o assunto. Um enorme texto que pode levar a lugar nenhum... Mas é minha maneira de usar as minhas armas. Sei que não sou grande formador de opinião, este blog tem pouquíssimos leitores e estarei atingindo pouca gente, mas é a esperança de que uma pequena mudança possa acontecer com alguma dessas pessoas que me faz continuar. E é aquilo... Lugar comum, piegas pra caramba, mas é com os pequenos passos que poderemos, quem sabe, chegar a algum lugar.

Até, jovens plebeus! Reflitam. E não deixem de usar as suas armas!

OBS: Mais três policiais militares e um do BOPE morreram no mesmo dia que o Capitão... No dia seguinte, um tenente reformado do exército também morreu por causa de um assalto. Acho que as notícias tiveram destaque pela ligação, pelas vítimas serem oficiais da força de segurança pública. O que mostra que a fatalidade não atinge apenas os mais desprotegidos... Com isso, devemos lembrar que a coisa é diária e não escolhe vítima certa. Não estamos imunes.

OBS 2: Usando do meu arsenal, vale divulgar aqui que amanhã teremos duas pequenas ações em prol de melhorias sociais... Visita ao Lar de Beth, que uma amiga minha organiza, quase sempre sozinha. É uma instituição para 40 crianças em Niterói, que passa por muitas necessidades e precisa de muita ajuda... E Pastoral do Sopão. Distribuição de comida e roupas na rua... Ambas abertas a quem quiser ajudar.

6 comentários:

Juliana Aquino disse...

Amigo Plebeu Alan,
como todas as pessoas que vivem ou tentam viver no bom humor também somos obrigadas a pensar coisas sérias e tristes como esta. Usou muitíssimo bem este nosso blog!
A coisa tá foda, não tô conseguindo ver luz no solução. Passeatas, velas acesas, fita preta no braço, nada disso adianta. Todas essas manifestações estão se tornando superficiais ao meu ver.
Enfim, espero que o que exista de bom em teorias, saiam do papel e nos dêem esperanças reais.
Valeu amigo!

Léo Ramos disse...

Estamos chegando a um ponto sem retorno, onde os políticos(esses que elegemos), só se manifestam quando morre um italiano, um russo ou um americano. Só tomam atitude pressionados pelo governo de outros países. E quando se trata do povo brasileiro? Quem é que olha pela gente?
O importante é não desistir de lutar.

clarissa disse...

Perdi minha mãe vítima da violência, 13 anos atrás. Também fizemos passeatas, manifestações... De que adiantou? A morte da minha mãe engrossa estatísticas - violência contra a mulher / crimes não solucionados...

Acredito em todos aqueles clichês: Para reduzir a violência é preciso investir em educação, saúde, dar cidadania. Voto com consciência. Nem sempre dá certo.

Só me resta fazer a minha parte. Reciclo lixo, não sonego imposto, não compro em camelô, não vendo meu voto, não suborno o PM, peço licença, digo obrigada, dou bom dia, atravesso a rua na faixa de pedestre. Ensino meu filho a fazer o mesmo.

Acho que as pequenas violências (motoristas que furam o sinal fechado, dão encontrão na rua, não dizem por favor) ajudam a fomentar a grande violência.

Fernandinha Alencar disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Fernandinha Alencar disse...

Realmente esse é um assunto q choca e nos deixa fragilizados, inconformados e indignados, mesmo qdo a violência não atinge pessoas próximas.
Três meses depois da minha chegada no RJ, cidade q escolhi para ficar, uma amiga muito próxima estava refém de um sobrevivente da Chacina da Candelária, dentro de um ônibus, à luz do dia, na Zona Sul do Rio. Quase dois anos depois, sofri um sequestro relâmpago em Niterói. E agora, fiquei sabendo q minha prima foi assaltada na porta de casa. Eu disse na porta!!! Ela deu queixa na polícia??? Não!!! Todos sabem quem são os sujeitos, q eles já estão agindo na área há um tempinho, mas o MEDO a impediu de ir à polícia. Medo de vingança, represálias... Ela tem um filho de 4 anos, outra de 14, toda a família mora perto.
Graças a Deus ela estava sozinha no carro, não chegou a "passar nem a primeira" e foi abordada. Todos viram, todos sabem quem são os sujeitos. Todos!!!
A gente só tem o direito de ficar calado, aceitar? Não tenho mais nem palavras!!

Grazy Vedder disse...

Realmente...não dá para dizer precisamente as causas e as soluções do problema da violência.
É incrível como ficamos indignados, mas ao mesmo tempo, sem nenhum tipo de atitude...alguns por comodismo, outros por saber que qquer coisa que faça, nada adiantará.

É uma mistura de conformismo com impotência, que nos faz encarar, de uma certa, situações absurdas de uma maneira passível. E com toda sinceridade, não sei bem o que fazer, o que procuro fazer é ser bom ao próximo, batalhar por uma vida melhor de maneira honesta e respeitosa, e fazer o dia a dia das pessoas que amo, o mais agradável possível. E tb, ajudar aqueles que precisam da melhor maneira possível.

Quem tinha que se preocupar e acabar com esse problema são os governos...mas, infelizmente, estão mais preocupados em "embolsar" o dinheiro que pagamos, do que investir em educação, saúde e empregos.

Pra dizer a verdade, o começo da solução, seria jogar uma bomba em Brasília e acaber com tudo que é político no Brasil. O único problema seria conseguir reunir essa cambada de infelizes em um dia de trabalho...já que nunca estão lá!