sexta-feira, 27 de março de 2009

A fumaça preta com cheiro de morte

A semana foi marcada pela violência na Zona Sul...
Eu poderia escrever sobre o absurdo, sobre a revolta, sobre a indignação, ou, imbuído disto, falar mal da Segurança Pública e da criminalidade.

Mas venho apenas deixar aquela velha frase: "Eu avisei..."

É muito óbvio hoje dizer que a violência chegou àqueles que a estavam ignorando. E volto a dizer também: Isso vai adiantar? Não... Porque as pessoas só se revoltarão quando tudo isso as afetar pessoalmente. Só tenta mudar, mesmo com aqueles protetos que não levam a lugar nenhum, mas chamam a atenção, quem perdeu alguém ou algo muito valoroso com a violência. Quem perdeu os pais, os filhos, os cônjuges, os amigos, os parentes, ou quem perdeu o direito de se locomover, de pensar, e está preso em uma cadeira de rodas ou em uma cama... Quem não teve nada disso, vai apenas se indignar. E como já dizia o Skank: "A nossa indignação é uma mosca sem asas / não ultrapassa as janelas de nossas casas / Indignação indigna / Indigna inação."

Já falei aqui de vítimas próximas. Amigos de amigos que morreram por causa da violência. Por mais que tenha sempre convivido com uma favela muito perto, ouvindo o barulho das balas, desta vez a coisa foi mais embaixo... Porque a vizinhança se deu conta do quanto está no centro do perigo. A vizinhança percebeu o quanto é frágil a noção que se tem de segurança. E vão fazer o quê? Indignar-se com o governo.

Como também já disse, eu não trago a solução. Ninguém sabe a solução, porque ela não é imediata. Toda a solução imediata será sempre revestida de fuga e ignorância. Ignorância porque a pessoa que aderir achará mais fácil ignorar todo o problema ao redor.

Acredito na mudança social. Mas ela é mesmo lenta, feita de pequenos passos. E cada um tem que fazer sua parte. Parece um discurso utópico, mas é real... Porque o maior problema do mundo, como também já disse aqui, é olhar pro próprio umbigo.

Deixo mais um vídeo... De uma banda que conheci quando trabalhei na Warwar Produções. A banda, infelizmente, não seguiu. Sei que esse vídeo não é o ideal para se entender a letra, mas, aos pacientes, tentem prestar atenção.



Noite na Cidade - Gaza

Vem mórbida noite
O estático silêncio e o injusto continua armado
Preso, mas ileso, sem medo do seu medo
Susto, traumas estão combinados
Mas a inocência dos seus gritos
Nos verbos, os gemidos
Criança esquece o riso
E a aflição aumenta
E desvenda a sua própria lenda
Falando sozinho, até que alguém lhe compreenda

Será que ninguém vê
A fumaça preta com cheiro de morte?
Será que ninguém vê
Que não se pode brincar com a sorte?

Refrão

Eu queria saber...
Eu queria saber o que causa tudo isso na cidade
Eu queria saber quando é que vamos ter um pouco de tranquilidade

É noite...
Usaremos medo e o nosso vício
Super produção para esse escuro fictício
No meio dos perfumes tu esquece de quem chora
Duvido tu lembrar de quem não tem um cobertor agora
Mas vira o jogo o inesperado
O sentimento na cidade amigo mal equalizado
O abstrato perde a graça
Quando tu percebe que é você que causa essa tal fumaça

Será que ninguém vê
A fumaça preta com cheiro de morte?
Será que ninguém vê
Que não se pode brincar com a sorte?

Refrão

Eu queria saber...
Eu queria saber o que causa tudo isso na cidade
Eu queria saber quando é que vamos ter um pouco de tranquilidade

OBS: Parte do Gaza é hoje a banda Estereograve.

4 comentários:

Dany Braga disse...

Nossa.. nunca tinha reparado o quaõa profunda é esta estrofe da musica do Skank...beijo!!!

Bibi disse...

Alan é isso aí. Acredito na mudança gradual, lenta, participativa, inclusiva! Sem olhar para o nosso umbigo, temos o exemplo de Bogotá e de NY que experimentaram mudanças. Podemos ter a nossa à nossa maneira! É preciso começar. É preciso querer deixar mais que um legado ou um nome gravado... É preciso querer!

Juliana Aquino disse...

Esse é o Alan!! Mandando bem sempre!

Ricardo Cruz disse...

Será, Alan, q é uma questão mesmo de mudança social?´
Não tenho tanta certeza assim...